01/08/07

quanto pior, melhor

Alguns dados encontrados na mídia brasileira

Estadão :
A reforma da agora tristemente notória pista 35 é um quebra-cabeça cujas peças, à medida que se encaixam, lançam novas luzes incandescentes sobre o desempenho abaixo da crítica da Infraero, a obesa estatal (26,5 mil funcionários) que aumentou os salários dos seus dirigentes em cerca de 50% desde 2001, dá-se ao luxo de pagar adicionais de férias também de 50%, no lugar dos 33% previstos em lei, tudo supostamente em nome da boa administração de 68 aeroportos no território, além de outras instalações ligadas ao transporte aéreo.
A Infraero, como se sabe, liberou a pista 35 sem os sulcos que ajudam a escoar a água acumulada das chuvas. Na versão oficial, isso faria pouca diferença.Não foi o que Lula ouviu na quarta-feira de três comandantes, um da Gol e dois da TAM, levados a ele, a seu pedido, por um ex-sindicalista do setor para uma reunião reservada (que afinal vazou no jornal Valor, em reportagem de Claudia Safatle). Os convidados comentaram o desconforto dos pilotos com os sucessivos recapeamentos da pista de Congonhas. Isso porque, entre o recapeamento e a escavação das ranhuras, que deve esperar a maturação do asfalto, quando chove a água se infiltra no material, que começa a soltar uma oleosidade, tornando a pista extremamente escorregadia. Para detectar esse “sabão”, é necessário um equipamento usado em outros países, mas não pela Infraero. “Ninguém nunca me falou disso antes”, reagiu Lula.
O presidente contou que perguntou ao presidente da Infraero, José Carlos Pereira, por que não se recapeou a pista com concreto, bem mais seguro. O brigadeiro respondeu que sairia mais caro. Zelo muito estranho, esse, que não existe quando se trata de salários e adicionais de férias. No ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU), auditando uma série de obras em Congonhas, identificou numerosos superfaturamentos, além de sobrepreços de até 250%, no caso de pontes para embarque de passageiros pelas quais a Infraero pagou R$ 2,21 milhões, ou R$ 1,4 milhão acima do valor de mercado.
Agora o TCU vai investigar a reforma da pista 35, que custou R$ 19,9 milhões, num contrato sem licitação, a pretexto de ser uma emergência. Pode ser que nunca ninguém tenha falado a Lula dos problemas da pista. Mas ele, como todo brasileiro medianamente informado, sabia que havia problemas e podia imaginar a relação disso com a incompetência e a corrupção na Infraero.

Texto de J.L.Mauad (empresário):
Colocar a gerência e a operação dos aeroportos nas mãos de uma empresa pública monopolista só podia dar no que deu, pois, ao contrário de qualquer empresa privada, os administradores públicos só têm a ganhar com as crises. Enquanto os empresários perdem dinheiro com cada atraso, cada pane técnica, cada greve, o pessoal do governo esfrega as mãos, pois ali está uma baita oportunidade de conseguir açambarcar mais verbas e mais cargos. É a velha política do "quanto pior, melhor".

Quem conhece um pouco o funcionamento da administração pública, especialmente no Brasil, sabe que, normalmente, o bom gestor de recursos, o administrador eficiente que se mantém dentro do orçamento, costuma ser punido, no exercício seguinte, com cortes de verbas, enquanto outros, cuja gestão é problemática e as verbas sempre insuficientes, não raro são agraciados com dinheiro farto no ano seguinte.

Até mesmo no plano salarial, quanto maior a crise, melhor. Vejam o caso dos controladores de vôo. Enquanto um empregado do setor privado precisa mostrar serviço, produtividade e eficiência para obter melhores salários, os funcionários públicos ganham em proporção direta ao barulho que fazem e aos prejuízos que provocam para a população. Quanto maior é o problema, mais chances têm de ver suas reivindicações atendidas.

Se o excesso de demanda é o sonho dourado de qualquer empresa privada, é um pesadelo para o serviço público. Não por acaso, no lugar de tentar oferecer mais conforto e preços acessíveis aos clientes, eles desejam mesmo é livrar-se "desses chatos". Lembram qual foi uma das primeiras providências pensadas pelo governo para amenizar o caos aéreo que tomou conta do país? Reduzir o número de vôos, ora bolas. Danem-se os passageiros que ficarão sem voar ou terão que pagar preços maiores.

Silvio D'Amico