26/12/08

vontade coletiva

Texto de Conde Loppeux de la Villanueva

Alguns liberais se acham o supra-sumo da inteligência ao defenderem a velha dicotomia entre Estado e sociedade civil, prevalecendo a idéia de que a vontade individual é superior a coletiva. Os socialistas pensam o inverso: a vontade coletiva sobrepõe a individual. O problema é que essa dicotomia é incompleta. A relação entre o público e o privado não é uma disputa de vontades. Pelo contrário, tanto a vontade individual como a vontade coletiva podem levar a arbitrariedades, com a diferença de o alcance coletivo ter um poder destruidor maior. Na prática, ambos os raciocínios levam à atomização do indivíduo ou ao seu aniquilamento. Quando um liberal diz que uma pessoa pode fazer tudo, contanto que não incomode os vizinhos, há neste discurso o veneno da indiferença moral, da incapacidade de ajuizar valores de conduta, do isolamento individual na sociedade, como se a pessoa não tivesse relações com seus semelhantes, e como se seus atos não gerassem conseqüências para si e para outros. Por outro lado, se essa conduta individual arbitrária é aceitável do ponto de vista ético, por que o liberal médio reclamaria do socialista, se a coletividade despótica é justamente a junção de indivíduos isolados transformados em “vontade coletiva”? Os totalitarismos são frutos dessa perda completa da ordem de valores morais.

É nesta ordem de raciocínio que as leis, o direito e mesmo a sociedade política estão sendo formadas atualmente. As reivindicações jurídicas são as mais espúrias, as mais tolas, as mais imaturas possíveis. Quando a disputa apaixonada oblitera a razão e quando a paixão se torna lei, nada poderemos esperar senão o arbítrio. E os valores que consagram o respeito à individualidade, a liberdade e as instituições privadas, como o direito à vida, a integridade da família e os direitos de propriedade, estão sendo substancialmente destruídos pelo relativismo dos liberais e dos socialistas.

Por que, afinal, os liberais progressistas e os socialistas odeiam tanto o cristianismo? Porque o cristianismo é a única fé que dá fundamento moral para a ordem ética e moral ainda sólida nas sociedades democráticas. São as noções cristãs da vida, da família e da propriedade que ainda dignificam o ser humano e orientam a sua liberdade para a justa e reta razão. Os liberais, ao relativizarem todas as escolhas individuais em nome da liberdade, degradam o indivíduo e prostituem a liberdade. E os socialistas relativizam a liberdade, justamente para destruí-la, quando controlarem o status do coletivo, seja no âmbito da política, como da cultura. A renúncia da sacralidade da vida, da família e da propriedade é a renúncia dos laços privados autênticos da pessoa, contra os desmandos do Estado e dos engenheiros sociais. É a prevalência da vontade irracional contra a razão, a queda da civilização para a barbárie. E a barbárie quer se tornar lei. São as estranhas noções de liberdade que eles prometem. A liberdade dos libertinos.

Silvio D'Amico